O bispo auxiliar de Los Angeles, dom Robert Barron, fundador do ministério Word on Fire, alerta para a ideologia da letra de “Imagine”, famosa canção de John Lennon, porque ela induz a julgar a religião como fonte de grandes males, quando, de fato, as ideologias ateias se mostraram muito mais letais.
A célebre canção foi tocada na abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o que dom Barron também comentou:
“Foi tocada e cantada por um coro de crianças. Depois houve versões pré-gravadas por diferentes estrelas do pop. E isso foi feito como uma espécie de hino laico”.
“Hino” laico e tendencioso
“Imagine”, realmente, é considerada por muitos como um “hino” à paz mundial e à união da humanidade, já que a letra composta por aquele que muitos apontam como o mais famoso dos Beatles parece vislumbrar um mundo em que não haveria mais divisões nem preocupações com o futuro: todos viveriam, literalmente, “para hoje”.
Entretanto, a visão de mundo supostamente idílica descrita na canção deixa transparecer uma ideologia abertamente materialista, que prescinde da transcendência espiritual. Dom Barron destacou:
“Começa assim: ‘Imagine que não existe o Paraíso; é fácil se você tentar. Não há inferno debaixo de nós; acima de nós somente o céu’ (…) Dizer que não existe o Paraíso, que não existe o inferno, significa que não há nenhum critério absoluto para o bem e o mal. Não há um juízo moral”.
Comentando a letra mediante um vídeo compartilhado no YouTube, o bispo norte-americano prossegue:
“Eu não tenho absolutamente nada contra os Beatles nem contra a obra de John Lennon, mas tenho que dizer que não gosto da música ‘Imagine’ (…) ‘Imagine que não existem países; não é difícil. [Que não existe] nada pelo qual as pessoas matem ou morram, nem religião’. O que me irrita mais nesse trecho é a linha final, ‘nem religião’ (…) E o que muitas pessoas da esquerda laica normalmente deduzem é que a fonte real dos males é a religião. Seria por culpa dela que as pessoas brigam”.
Bispo alerta para ideologia da letra de “Imagine”, de John Lennon
É justamente nesse trecho que a canção reforça uma visão ideológica falaciosa. O bispo critica:
“Repare melhor no século XX: as ideologias ateias foram responsáveis por muito mais violência do que a religião”.
Observando que fatores étnicos, econômicos, políticos e coloniais se mostraram “muito mais mortais” do que a religião, dom Barron acrescenta que, a seu ver, o necessário para se conseguir a paz é justamente o contrário do abandono da fé:
“Quando deixamos Deus de lado, também deixamos de lado o que é transcendente, deixamos de lado o sentido objetivo da moralidade. E é aí é que temos problemas”.
Hipocrisia
Além do alerta para a mensagem antirreligiosa enviesada e falaciosa que a ideologia da letra de “Imagine” propaga, o bispo não deixou passar em branco um fato no mínimo incoerente, para não dizer hipócrita, durante a execução da música na abertura das Olimpíadas de Tóquio:
“O que me fez rir foi ouvir todas aquelas celebridades, e não vou dizer os nomes delas, porque você pode ir lá no YouTube e ver, mas todas aquelas celebridades cantando esse trecho: ‘Imagine que não existem propriedades’ (…) Cada um dos que cantaram essa canção é multimilionário. E eu não acho necessário um grande esforço da imaginação para dizer que eles, provavelmente todos, têm muitas casas e frotas de carros e armários cheios de roupas”.
Dom Barron fez questão de deixar claro:
“Não há nada de errado com as propriedades em si. Aliás, defendemos a legitimidade da propriedade privada. O problema é quando eu não tenho um embasamento moral para colocar as minhas propriedades num contexto moral mais amplo: o do bem comum. Esse é o problema. É aí que as propriedades podem se tornar problemáticas”.
Todos “irmãos”, mas… sem Pai
Por fim, o bispo recordou outra incoerência de uma suposta “fraternidade universal” que finge que não temos um Pai em comum:
“É simplesmente impossível ter uma fraternidade de todos os seres humanos se o nosso Pai comum for deixado de lado. Se você quer falar de uma irmandade real, de uma relação de irmãos, é impossível se cortarmos o nosso Pai comum”.
De fato, a mesma incongruência se verificou no lema da Revolução Francesa, que, inspirada por “ideais” não apenas laicos, mas ferrenhamente anticristãos, pregava da boca para fora o mantra da “liberdade, igualdade e fraternidade” enquanto, na prática, recorria à perseguição ideológica, às condenações sumárias e à guilhotina contra todos os “iguais” que não eram “tão iguais” assim.
Aliás, a mesma hipocrisia da “igualdade seletiva” foi a deixa aproveitada por George Orwell para sintetizar magistralmente outra ideologia falaciosa e totalitária que se finge de humanitária e fraterna: o comunismo, onde “todos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.
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